a metafísica pela manhã
durante vinte anos odiei Setúbal. a sua pobreza cultural fazia-me azia e ainda não sabia apreciar o azul, o do mar e o do céu. há dois anos, sem saber bem como, comecei a amar Setúbal. comecei apreciar o rio e a vista que tinha de minha casa. a cidade ali em baixo, mesmo pobre, dava-me um conforto inexplicável. agora que vivo nos subúrbios de Lisboa percebo melhor a vidinha triste desta gente (a que agora pertenço). espreito pela janela e vejo prédios. ando pela rua e vejo prédios. meto-me no autocarro, passeio trinta minutos e vejo prédios. não há uma nesga de Sado a espreitar-me. não há um pedaço de Arrábida a sorrir para mim. isso explica a falta de horizontes das pessoas. só vêem prédios. foda-se.
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